sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Um Pessoa para embelezar a vida


Eu não possuo o meu corpo - como posso eu possuir com ele? Eu não possuo a minha alma - como posso possuir com ela? Não compreendo o meu espírito - como através dele compreender?
Não possuímos nem o corpo nem uma verdade - nem sequer uma ilusão. Somos fantasmas de mentiras, sombras de ilusões, e a nossa vida é oca por fora e por dentro.
Conhece alguém as fronteiras à sua alma, para que possa dizer - eu sou eu?
Mas sei que o que eu sinto, sinto-o eu.
Quando outrem possui esse corpo, possui nele o mesmo que eu? Não. Possui outra sensação.
Possuímos nós alguma coisa? Se nós não sabemos o que somos, como sabemos nós o que possuímos?
PESSOA, Fernando, "O Livro do Desassossego".

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Sem fantasmas

Sentiu-se sozinho. Sempre soube sobre seu estado de solidão. Era um estado de espírito consciente. Contudo, contava com seus fantasmas costumeiros. Porém naquela noite sabia mais do que nunca que estava sozinho. 
Ouvia latejos do silêncio pularem das paredes de madeira que o cercavam acertarem em cheio suas extremidades e sua alma. Seus fantasmas o haviam abandonado. 
Pensou se poderia mudar o frio que o envolvia: telefone, email, cartas, filmes. Não conseguia alcançar nada disso para senti-los. Disse para si mesmo:
- Que minh'alma nao durma por completo. Teve, pela primeira vez em vida, o temor da morte. Buscou ressuscitar o pouco que notava e acreditava ainda existir. 
Em vão. Tudo em vão.
Amou muitas vezes.Ouvira, ao longo dos anos, os melhores conselhos dos melhores amigos. 
"Ame sempre e não perca a esperança de ser feliz", dizia-lhe um amigo.
"Não se permita desacreditar num mundo de paz e plenitude", ensinava-lhe outro.
Acreditou no bem, na paz, na justiça. Sabia que seu ser era feito para o bem, para acreditar na vida com entusiasmo e esperança. Doou-se aos sentimentos nobres de coração.
Escreveu cartas de amor e amou muito. Amou seus amigos, seus irmãos, a vida, os fins de tarde, os inícios dos dias, o Sol. Foi um ser de luz que transcendeu.
Arrancaram-lhe pedaços.
Desafiaram sua fé em Deus.
Derrubaram-no ao chão.
Levantou.
Mas levantou tantas vezes...
Voltou a acreditar.
Voltou a crer nos melhores conselhos.
O tempo começou a diminuir os dias e encurtou o brilho do Sol.
Jogou-se sobre o bruto concreto dos dias cinzas e passageiros.
A míngua começou dilacerar-lhe.
Fechou-se.
Provou da realidade feia do mundo.
E o que restou-lhe de tudo isso?
O choro inconformado transfigurado na magreza, nas profundas olheiras e no amarelo pálido que lhe tingia toda a pele.
Estava só e sentia medo.
Medo de tudo.
Medo de todos.
Medo do que a vida tinha lhe mostrado e lhe arrebentado.
Estava só.
Tinham-lhe duramente cortado os galhos verdes.
Sombrio e sem fantasmas deitou-se na cama.
E o barulho da queda nao o despertou.
Atritou contra o colchão apodrecido.
Sentiu o apodrecimento ao seu redor e 
percebeu que as lágrimas também já lhe eram companheiras.
Pôs-se ao nada.
E sozinho permaneceu.

 







segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Que não me falte o delicado essencial

Há menos de 48h de completar 24 anos estou em meu quarto e sinto. Sinto tanto como me é de costume com o acréscimo de que excepcionalmente hoje decidi deixar-me sentir, mas sem limites, regras e temores. Há menos de uma hora sonhei com uma antiga colega do colegial que vi passar na rua 3h mais cedo. Acenei para ela.
Dos meus sonhos fui para tantos lugares, de cima desse colchão barato com cinza de cigarro e vômito de absinto, dos tempos em que fumava e bebia, senti em vidas que são apenas minhas coisas das quais não quero esquecer jamais e menos ainda contá-las. Penso que nesses dias em que me sinto sentindo de verdade me fecho e não quero que saibam nada sobre mim. Não conto. Não saio de casa. Fecho meus olhos e vou para esse oceano brilhante e azul que existe dentro de mim. O sono durou pouco mas estive em muitos lugares e quando acordei decidi continuar a navegar nesse oceano do espírito que somos todos nós em essência.
Incensos, rituais xamânicos, danças difusas e longínquas dentro do que sinto. O Sebastian não deixou barato. Estamos tão ligados que ele dormiu comigo e quando acordamos sentou-se na janela e ficou admirando a Lua cheia e os grunhidos da noite. Ele é tão perceptivo que ás vezes até me assusto. Deve estar há anos luz de muitos outros seres. Abracei-o tantas vezes na janela que já perdi as contas. Estou feliz. Daquela felicidade que preciso prender a respiração para não chorar sempre que encontro um conhecido na rua e dou-lhe um abraço. 
Estou me preparando para daqui a 48h quando estarei na casa de minha mãe com as pessoas que mais amo e que estão mais fáceis de serem abraçadas daqui a 48h.
Meditei depois de acordar. E ao entrar no meu oceano interior percebi que ele se transfigurava no mundo, nesse mar de sentidos e verdes que é o mundo de todos nós. Estive em mim mas estive em todos. Estive em tudo. Senti tudo. O bem, a paz, o amor, a misericórdia, o perdão e a gratidão estiveram comigo. Agarro-me no que me fortalece, faço minha essência – a que julgo ter – progredir. 
Sou forte e posso ajudar. 
Sou sozinho mas estou em tudo o que amo. E amo tudo o que posso sentir e tocar. Profundo é tudo aquilo que sentimos e tocamos com o oceano que somos.
Transbordar nisso é exercer o poder de sentir que há um Deus ou que eles são muitos e estão todos aqui dentro, dentro de mim e de tudo. Planar. Voar, subir, adentrar. São muitas as portas do bem e para elas é bom rumar sempre que pudermos.
A noite, o verde, os assovios desvairados. Os deuses, o amor, o azul, a consciência de um estado de espírito maior que tudo o que vemos. Milhões de seres, formas e ventos. Tudo aqui lindamente guardadinho. Como posso eu não tocar no que sou?
Esqueço do que nao sou mas sei que sou tudo.
Estabeleço com todas essas coisas uma junção com minha alma, meus amigos, meus amores e essa coisa incrível que chamamos de vida, de Ser.
Ser para Ser. Ser para Ser mais, Ser para se permitir nas profundezas da alma do Ser.
Uma luz sobe acima de minha cabeça. Estou acordado. Posso vê-la. Me traz ainda mais paz interior e multiplica minha fé nesse dom que é o Sentir com o espírito. Algo lindo se manisfesta aqui. Sai do que sou, do meu sentir. Há, também, um estranho, tímido e bonito calor em tudo o que me cerca. É bonito e se mostra como uma extensão do que sonhei, vi e vivi.
Ovelhas, pássaros, pessoas. Tudo está aqui comigo e com essa vastidão de luz que todos trazemos dentro do que somos.
Senti e sinto.
Não quero descrever nada.
Quero apenas sentir.
Que não me falte o delicado essencial. Que não me falte o eu.
Começa ventar e já não sei mais onde estão os limites do meu eu e nem dessas partículas e átomos que são o mundo e as coisas. Estou nisso e isso está em mim.
Sou tudo.
Sou completo.
Pelo sentir eu sou.

sábado, 29 de outubro de 2011

Fragmento 6 in Livro do Desassossego

6.
"Escrevo, triste, no meu quarto quieto, sozinho como sempre tenho sido, sozinho como sempre serei. E penso se a minha voz, aparentemente tão pouca coisa, não encarna a substância de milhares de vozes, a fome de dizerem-se de milhares de vidas, a paciência de milhões de almas submissas como a minha ao destino quotidiano, ao sonho inútil, à esperança sem vestígios. Nestes momentos meu coração pulsa mais alto por minha consciência dele. Vivo mais porque vivo maior."

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Viver maior.
Sábado a noite em casa
e como se alguma coisa estivesse presa em minha garganta ou presa em minha vida.
Seja lá o que for isso está querendo sair, saltar para fora do que sou.
Ou do que penso que sou.
Não sei quem sou,
ou melhor, às vezes até o sei,
e sei pelas coisas que estão presas em mim
e querendo explodir,
seguro-as.
São a única forma de me conhecer.
Engana-se quem pensa que isso é pouco.
Restos, fiapos, gritos abafados,
Dores guardadas,
Sentimentos que querem saltar para fora.
São eles que nos fazem sentir gente,
sentir vida.
Não por eles, pelos sentimentos tristes,
jamais saberia sobre qualquer parte do que sou.
Ou, possivelmente, do que penso que sou.


sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Derrocado

E sentado aqui, no meio do nada, subo meus olhos para cima: vejo o céu azul e imenso. Analiso ele debaixo, ele me olha de cima.
Sinto o seu cheiro em cada movimento que minha mente prevê para os próximos segundos - principio a sentir a nossa febre... mas esta desapareceu.
Não estou sozinho. Tenho muito de você em todo o meu Ser e me questiono em muitos instantes qual é a minha dimensão exata. Não sei onde começo e nem onde termino.
Você em mim. 
Sou mais que eu era e não sei minhas medidas.
Perdi-as como se perde objetos.
Estou tonto. A claridade desse azul me atormenta.
Levantar do chão requer a mínima noção do espaço que ocupo.
Não sei minhas medidas.
E a cada dia se torna mais impossível o "levantar-me".
Não existem apoios seguros.
Quero tocar o céu. Quero que esse azul, mesmo angustiante, possa me ajudar.
Não o alcanço, estou longe.
Longe de todos.
Você nao chegará. Não me levantarei.
Que caminho é esse?
Não é um caminho, penso.
És do mundo. Sou seu.
Não estás comigo.
Não tenho nada.
Mas conto ainda com o azul, mas imagino que logo ele desaparecerá dando lugar a escuridão da noite.
Temo pelo que possa acontecer. Quero ter a sorte de contar com as estrelas.
Me contaram outro dia que elas aparecem no céu todas as noites.
Sou temeroso. Não conheço a noite, apenas o que me contaram sobre ela.
Há, portanto, em mim, a esperança de poder contar com as estrelas.
Aqui, espero a noite.
Imóvel debaixo do azul.
Imóvel no chão.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Para você...

Deixo você pro seu drink esquentar
Meio álcool, meio água, meio gelo que já derreteu
Deixo a canção pro cigarro engasgar
E a minha lembrança estar
Deixo você pra quem quiser ser teu
Pra amantes desbotados que não ardem como eu
Deixo tua cama quente pro teu sexo triste
Pra que nunca esqueças
O que de mim restou
Vestido pelo chão
Enquanto te embriagas entre uma ilusão e outra
Mas sei quando vem esse sol despertar tua manhã ao meio dia
Tua ressaca tem o gosto da minha boca



Ressaca
Filipe Catto

Doce Caio - Quase novembro, a ventania de primavera levando para longe os últimos maus espíritos do inverno

Ter que atravessar os gelos de julho para chegar despedaçado em agosto e, a partir de setembro, tentar reunir os cacos outra vez. Porque guardar roupa velha dentro da gaveta é como ocupar o coração com alguém que não lhe serve.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

13 set 2011

Hoje é um dia especial. Meu grande amor está de aniversário, escrevi-lhe uma carta noturna para lembrar-lhe o quanto é especial na minha vida e, assim que o dia nasceu, peguei meu iPAD e fui para a janela. Queria fotografar o dia surgindo no horizonte e depois mandar-lhe para que pudesse perceber o presente que os Céus estavam a enviar-lhe.
O Sebastian, COMO SEMPRE se meteu no meio... 
E não é que a foto ficou legal? Não queria postar porque não está TÃO boa assim e eu como fotógrafo sempre deixei muito a desejar - sinal de que, pelo menos, sei o que é uma foto boa.
Enfim...



Malditas tardes de verão


Não tenho muitas lembranças alegres da minha adolescência, mas certamente, nessa fase da minha vida, não houve nada mais triste que os fins de tarde no verão.


Eu nao sei explicar. Contudo, lembro que eu sentava na frente da minha casa e ali permanecia até o anoitecer olhando para a rua. Era uma espécie de ritual: chegava da escola as 17h15, largava meus livros, comia alguma coisa, vestia uma roupa "fresca" - ou nao tão fresca assim porque nessa época eu nao usava camisas com mangas curtas - e me sentava na calçada que rodeava toda a frente da minha casa e, descalço, colocava os pés na grama. Dali eu olhava para a rua cheia de pessoas felizes e entusiasmadas andando sempre em grupos e com ares de que estavam fazendo algo que as deixava iluminadas e, ao mesmo tempo, me entristecia. Eram cheias de si, cheias de vontade de viver. Riam, gritavam, estavam de mãos dadas, eram amigas, eram namorados, eram irmãos, eram felizes. Eu pensava no meu futuro, eu pensava se algum dia sairia na rua sem camiseta, de mãos dadas, rindo do nada e despreocupado com o Sol ou a poeira da rua que era tão imensa quanto os sorrisos estampados naquelas caras. Eu pensava que, talvez, por algum motivo, eu nao tinha sido escolhido por Deus para estar ali em meio a eles e que, provavelmente, jamais conseguiria me juntar a essa multidão que por vezes pensei que existia apenas por um intuito: me fazer ver o quanto eu era triste.


Por outro lado, o frio das lajotas da calçada na minhas pernas e as cócegas da grama nos meus pés me causavam uma leve e boa sensação de aconchego e acolhimento. Era, de fato, a única coisa realmente boa de sentir naqueles dias; a única coisa que valia a pena em meio àquele calor tropical poeirento e bufante e àquelas pessoas imensamente felizes, suadas e diferentes de qualquer coisa que eu poderia pensar em ser.


Agora, tanto tempo depois, eu sinto medo. Sempre que setembro chega na 2ª quinzena e o calor começa a fritar as pessoas, eu peço a Deus que o Sol nao me entristeça como naquelas tardes, porque aqui onde estou nao encontro grama e acredito que poderá ser o meu fim se a poeira, as pessoas e o calor se unirem mais uma vez contra a minha solidão.






quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O Preço da Honra

As coisas que mais ocorrem na vida e são tidas pelos homens como o supremo bem resumem-se, ao que se pode depreender das suas obras, nestas três: as riquezas, as honras e a concupiscência. Por elas a mente se vê tão distraída que de modo algum poderá pensar em qualquer outro bem. Realmente, no que tange à concupiscência, o espírito fica por ela de tal maneira possuído como se repousasse num bem, tornando-se de todo impossibilitado de pensar em outra coisa; mas, após a sua fruição, segue-se a maior das tristezas, a qual, se não suspende a mente, pelo menos a perturba e a embota. Também procurando as honras e a riqueza, não pouco a mente se distrai, mormente quando são buscadas apenas por si mesmas, porque então serão tidas como o sumo bem. Pela honra, porém, muito mais ainda fica distraída a mente, pois sempre se supõe ser um bem por si e como que o fim último, ao qual tudo se dirige.
Além do mais, nestas últimas coisas não aparece, como na concupiscência, o arrependimento. Pelo contrário, quanto mais qualquer delas se possuir, mais aumentará a alegria e consequentemente sempre mais somos incitados a aumentá-las. Se, porém, nos virmos frustrados alguma vez nessa esperança, surge uma extrema tristeza. Por último, a honra representa um grande impedimento pelo facto de precisarmos, para consegui-la, de adaptar a nossa vida à opinião dos outros, a saber, fugindo do que os homens em geral fogem e buscando o que vulgarmente procuram. 

Baruch Espinoza, in 'Tratado da Correcção do Intelecto'

Igualdade não é Identidade

Combaterei pelo primado do Homem sobre o indivíduo - como do universal sobre o particular. Creio que o culto do universal exalta e liga as riquezas particulares - e funda a única ordem verdadeira, que é a da vida. Uma árvore está em ordem, apesar das raízes que diferem dos ramos. 

Creio que o culto do particular só leva à morte - porque funda a ordem na semelhança. Confunde a unidade do Ser com a identidade das suas partes. E devasta a catedral para alinhar pedras. Combaterei, pois, todo aquele que pretenda impor um costume particular aos outros costumes, um povo aos outros povos, uma raça às outras raças, um pensamento aos outros pensamentos. 

Creio que o primado do Homem fundamenta a única Igualdade e a única Liberdade que têm significado. Creio na Igualdade dos direitos do Homem através de cada indivíduo. E creio que a única liberdade é a da ascensão do homem. Igualdade não é Identidade. A Liberdade não é a exaltação do indivíduo contra o Homem. Combaterei todo aquele que pretenda submeter a um indivíduo - ou a uma massa de indivíduos - a liberdade do Homem.

Creio que a minha civilização denomina «Caridade» o sacrifício consentido ao Homem para que este estabeleça o seu reino. A caridade é dádiva ao Homem, através da mediocridade do indivíduo. É ela que funda o Homem. Combaterei todo aquele que, pretendendo que a minha caridade honre a mediocridade, renegue o Homem e, assim, aprisione o indivíduo numa mediocridade definitiva. 
Combaterei pelo Homem. Contra os seus inimigos. Mas também contra mim mesmo. 

Antoine de Saint-Exupéry, in 'Piloto de Guerra'

O Engano da Bondade - Pablo Neruda

Endureçamos a bondade, amigos. Ela também é bondosa, a cutilada que faz saltar a roedura e os bichos: também é bondosa a chama nas selvas incendiadas para que os arados bondosos fendam a terra. 
Endureçamos a nossa bondade, amigos. Já não há pusilânime de olhos aguados e palavras brandas, já não há cretino de intenção subterrânea e gesto condescendente que não leve a bondade, por vós outorgada, como uma porta fechada a toda a penetração do nosso exame. Reparai que necessitamos que se chamem bons aos de coração recto, e aos não flexíveis e submissos. 
Reparai que a palavra se vai tornando acolhedora das mais vis cumplicidades, e confessai que a bondade das vossas palavras foi sempre - ou quase sempre - mentirosa. Alguma vez temos de deixar de mentir, porque, no fim de contas, só de nós dependemos, e mortificamo-nos constantemente a sós com a nossa falsidade, vivendo assim encerrados em nós próprios entre as paredes da nossa estuta estupidez. 
Os bons serão os que mais depressa se libertarem desta mentira pavorosa e souberem dizer a sua bondade endurecida contra todo aquele que a merecer. Bondade que se move, não com alguém, mas contra alguém. Bondade que não agride nem lambe, mas que desentranha e luta porque é a própria arma da vida. 
E, assim, só se chamarão bons os de coração recto, os não flexíveis, os insubmissos, os melhores. Reinvindicarão a bondade apodrecida por tanta baixeza, serão o braço da vida e os ricos de espírito. E deles, só deles, será o reino da terra. 

in "Nasci para Nascer"

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

David Bowie - Starman


Marche Aux Flambeaux - CRUZ DE SOUZA


I

Rompe na aurora o sol que a terra esbofeteia
Com látegos de chama, iriando o pó e a areia,
Iriando os vegetais de ricas pedrarias,
Dos rubis e cristais das ourivesarias;
Aurora acesa em cor de púrpura de cravos
Opulentos, febris, ensanguinados, bravos;
De ritmos leves de harpa e frêmitos e beijos
Que são da natureza os trêmulos arpejos;
Aurora que sorri, que traz pomposamente
Todo o raro esplendor da luz resplandecente,
Das paisagens louçãs no fúlgido matiz
O aroma a derramar da meiga flor de lis.
Na alegria dos tons os pássaros cantando
Vão as asas abrindo, entre os clarões ruflando,
Asas emocionais, que assim dentre clarões
Palpitam num fervor de alados corações.
E no luxo oriental de etéreo Grão-Mogol
Como um Baco feliz rubro flameja o sol.

II

Filósofos titãs, filósofos insanos
Que destes turbilhões, que destes oceanos
De lutas e paixões, de sonho e pensamentos
Espalhastes no mundo aos clamorosos ventos
A Ciência fatal, talvez como um veneno,
Que os tempos abalou no caminhar sereno;
Filósofos titãs, que os séculos austeros
No flanco da Matéria abris, graves, severos,
Sobre o escombro da fé, da crença e da esperança,
Da civilização o trilho que hoje alcança
No seu aço viril as regiões supremas,
Traçado em novas leis, doutrinas e problemas;
Vós que sois no Saber os monges da existência
E só acreditais na força da Ciência,
Que da morte sabeis os filtros invisíveis,
Narcóticos, sutis, incógnitos, terríveis,
Não sabeis, entretanto, apóstolos sombrios,
Como à luz da Ciência os homens estão frios,
Como tudo ficou num doloroso caos
E os seres que eram bons, rudes, egoístas, maus.
Em vão! em vão! em vão! os vossos largos crânios
Lutaram pelo Bem dos Bens contemporâneos!
Tudo está corrompido e até mais imperfeito...
Não há um lírio são a florescer num peito,
De piedade, de amor e de misericórdia...
Se brota uma virtude o ascoso vício morde-a,
Envilece, corrompe e abate essa virtude
Com o cinismo revel dum epigrama rude...
E até muita alma vil, feroz, patibular,
Impunemente sobe ao mais sagrado altar.
Por isso vão passar perante a turbamulta
Como abrupta avalanche, enorme catapulta,
Numa marche aux flambeaux, os famulentos vícios
Que cavaram no globo horrendos precipícios,
Os vícios imortais, que infestam tribos, greis,
Povos e gerações, seitas, templos e reis
E que são como a lava obscura da cratera
Que subterraneamente em tudo se invetera.
Com toda intrepidez hercúlea de acrobata
Vou sobre eles soltar, gloriosa, intemerata,
A sátira que tem esporas de galhardo
Cavaleiro ideal que joga a lança e o dardo.
Vou com esse altanado e muscular esforço
De quem galga triunfal o soberano dorso,
A crista vigorosa, altiva, sobranceira,
Da mais agigantada e vasta cordilheira.

III

Lobos, tigres, chacais, camelos, elefantes,
Hipopótamos, ursos e rinocerontes,
Leopardos e leões, panteras acirrantes,
Hienas do furor, membrudos mastodontes,
Tredas feras do mal, soturnos dromedários,
Serpentes colossais que rastejais na treva,
Monstros, monstros cruéis, medonhos, sangüinários,
Cuja pata esmagante a presa aos antros leva;
Ó ventrudos judeus, opíparos, obesos,
De consciência obtusa, ignóbil e caolha
Que no mundo passais grotescamente tesos
Com honras de entremez e grandezas de rolha;
Gafentos histriões, ridículos da moda,
Que fingis entender Berlim, Londres, Paris,
Mas nos altos salões, por entre a fina roda,
Meteis sordidamente o dedo no nariz;
Brasonados truões, inúteis como eunuco,
Que as pompas ostentais de aurífero nababo
Mas apenas valeis como um limão sem suco,
Tendes rabo no corpo e dentro d'alma rabo;
Nobres de papelão, milionários vândalos
De ventre confortado e rosto rubicundo,
Que no torvo cancã, no cancã dos escândalos
Sois o horrendo espantalho, a ignomínia do mundo;
Ó deuses do milhão, ó deuses da barriga,
Que sentindo a aguilhada intensa da luxúria
Buscais a mais em flor e linda rapariga
Para então vos fartar na luxuriante fúria;
Gamenhos de toilette e convicções de lama
Onde tudo afinal se atola e se chafurda,
Que do clube e do sport sintetizais a fama
Mas tendes para o Bem a fibra sempre surda;
Palhaços, clowns senis, hediondos borrachos
Que aos trambolhões urrais afora no universo,
Desdenhando de tudo e até rindo dos fachos,
Do clarão do saber em toda a parte imerso;
Almas negras, servis, d’ergástulos caóticos,
Gerado no paul das lúgubres voragens,
Do crime nos bulcões, nos vícios mais despóticos
Aos quais tanto rendeis eternas homenagens,
Manequins, charlatães, devassos do bom-tom,
Que viveis nas Babéis das grandes capitais
Apodrecendo sempre infamemente com
O cancro do dinheiro as forças virginais;
Mascarados tafuis de gordos ventres de ouro,
Ó bonzos do deboche e cínicos esgares,
Que sois o único sol esterlinado e louro
Das parvas multidões, das multidões alvares;
Fidalgos de barril, sicofantas, malandros
Do templo e do bordel, da crápula de harém
Que ao puro mar do Ideal, com torpes escafandros,
Arrancais, p'ra vender, a pérola do Bem;
Ó trânsfugas, ladrões que difamais a terra,
Que tudo poluís, do próprio lodo à flor,
À serena humildade, intrepidez da guerra.
Aos beijos maternais, ao nupcial amor;
Espíritos de treva, espíritos de barro
Que enegreceis de horror o sangue das papoulas
E das ostentações vos aclamais no carro,
Cobertos de cetins, arminho e lantejoulas;
Que se vem de repente o Nada sepulcral
Nunca deixais, sequer, no tétrico leilão,
No leilão da memória, estranho, universal,
Nem um som a vibrar do estéril coração!
Dentre feras brutais de ríspidos penhascos
E a torrente caudal de rijos versos francos
E a zombaria e o riso e as sátiras e os chascos,
Nesta marche aux flambeaux ides passar, aos trancos!
Do mundo os naturais, zoológicos museus
Despejem para fora as pavorosas massas,
Para virem reunir-se aos tábidos judeus
Irromper e seguir e desfilar nas praças.
Que a cada mata, a entranha, o seio virgem se abra
Jorrando tigres, leões, panteras do seu centro
E na dança infernal, estrupida, macabra,
Siga a marche aux flambeaux pelo universo a dentro.
Gargalhadas abri a rubra flor sangrenta
Da humanidade vã na amargurada boca,
Vai agora passar a marcha truculenta
Sob o espingardear duma ironia louca.
E desfila e desfila em becos e vielas
E torna a desfilar por vielas e por becos,
Às risadas da turba, estultas e amarelas
Que têm o áspero som de gonzos perros, secos...
E desfila e desfila, estrídula e execranda,
Das praças na amplidão, rugindo em mar desfila,
Enquanto além dardeja, heróica e formidanda,
A metralha do sol que rútilo fuzila...
E mastodontes vão de braço dado a sérios
Burgueses que já são bem bons comendadores
E marqueses de truz, com ares de mistérios,
De lunetas gentis e aspectos sonhadores
Dão o braço fidalgo e airoso das nobrezas
Aos ursos boreais, enquanto os conselheiros,
Os condes, os barões, os duques e as altezas
Lá vão de braço dado aos lobos carniceiros.
E nessa singular, atroz promiscuidade,
Animais e truões de catadura suína,
Gordalhudos heróis da infâmia e da maldade,
Vendidos da honradez, velhacos de batina
Bobos, cães, imbecis, humanos crocodilos
E déspotas, jograis, todos os miseráveis
De todas as feições e todos os estilos,
Uns aos outros lá vão jungidos, formidáveis!...
Mas a marche aux flambeaux derrama um pesadelo,
A agonia dum tigre, em sonhos, sobre um ventre,
Agonia mortal que envolve tudo em gelo...
E desfila e desfila entre sarcasmos e entre
As sátiras-fuzis, relampejando açoite,
Por essa imensa aurora, estranhamente imensa
Por um sol que angustia e que não tem da noite
Para a Miséria a sombra atenuante e densa.
Os vícios, as paixões, os crimes, ódios e erros,
Na marcha, de roldão, caminham fraternais
Com bandidos, vilões, burgueses rombos, perros
E focas e mastins, macacos e chacais.
Aos sobressaltos vão como visões, fantasmas
Bichos de toda a casta, anões de chapéu alto,
Deixando em convulsão todas as almas pasmas
E o globo num tremendo e fundo sobressalto.
E nas praças, ao sol, confundem-se os bramidos,
Os uivos com a expressão humana misturados,
Através do sussurro e bruscos alaridos
Das chacotas bestiais, dos risos trovejados.
E segue e segue e segue, afora, légua a légua
Essa marche aux flambeaux, ciclópica, estupenda
Caminha atravessando um longo sol sem trégua,
Um dia secular, um dia de legenda;
Caminha atravessando um sol de foco aberto,
Por um dia fatal, interminável, mudo,
O dia do remorso, aterrador, incerto
Que em todo o coração crava um punhal agudo.
Mas eu quero assim mesmo, eu quero-vos assim,
Em marcha tropical, à crua e ardente luz
Que vos seja uma febre indômita, sem fim,
Um cautério de fogo a vos queimar o pus
Venéreo da Moral, carbonizando-o até
Para que nunca mais se sinta dele a origem
Nem volte, como sempre, então, a ser o que é,
Deixando-vos no mundo inteiramente virgem;
Eu quero-vos assim, de fachos apagados,
Apagados, ao alto, os joviais flambeaux,
Que os tereis de acender nos campos ignorados
Que de sóis de Vingança a Eternidade arou.
E depois de vagar às sátiras de todos,
Na evidência da luz, numa perpétua aurora;
De caminhar ao sol, por tremedais, por lodos,
No tédio do sarcasmo, o tédio que a devora,
Essa Marcha afinal penetrará aos urros,
Titânica, sinistra e bêbada, irrisória,
Num caos de pontapés, coices, vaias e murros,
Na eterna bacanal ridícula da História.

???

O que é amar?
Não estou certo de ter feito isso algum dia.
Quero que alguém me conte ou explique como se ama.
E se isso está realmente ligado ao verbos:
- sofrer;
- ousar;
- desistir.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Grandes (Pessoa)

 Grandes são os desertos, e tudo é deserto.  
 Não são algumas toneladas de pedras ou tijolos ao alto  
 Que disfarçam o solo, o tal solo que é tudo.  
 Grandes são os desertos e as almas desertas e grandes  
 Desertas porque não passa por elas senão elas mesmas,  
 Grandes porque de ali se vê tudo, e tudo morreu. 
 Grandes são os desertos, minha alma!  
 Grandes são os desertos. 


 Não tirei bilhete para a vida,  
 Errei a porta do sentimento,  
 Não houve vontade ou ocasião que eu não perdesse.  
 Hoje não me resta, em vésperas de viagem,  
 Com a mala aberta esperando a arrumação adiada,  
 Sentado na cadeira em companhia com as camisas que não cabem,  
 Hoje não me resta (à parte o incômodo de estar assim sentado)  
 Senão saber isto:  
 Grandes são os desertos, e tudo é deserto.  
 Grande é a vida, e não vale a pena haver vida, 


 Arrumo melhor a mala com os olhos de pensar em arrumar  
 Que com arrumação das mãos factícias (e creio que digo bem)  
 Acendo o cigarro para adiar a viagem,  
 Para adiar todas as viagens.  
 Para adiar o universo inteiro. 


 Volta amanhã, realidade!  
 Basta por hoje, gentes!  
 Adia-te, presente absoluto!  
 Mais vale não ser que ser assim. 


 Comprem chocolates à criança a quem sucedi por erro,  
 E tirem a tabuleta porque amanhã é infinito. 


 Mas tenho que arrumar mala,  
 Tenho por força que arrumar a mala,  
 A mala. 


 Não posso levar as camisas na hipótese e a mala na razão.  
 Sim, toda a vida tenho tido que arrumar a mala.  
 Mas também, toda a vida, tenho ficado sentado sobre o canto das camisas empilhadas,  
 A ruminar, como um boi que não chegou a Ápis, destino. 


 Tenho que arrumar a mala de ser.  
 Tenho que existir a arrumar malas.  
 A cinza do cigarro cai sobre a camisa de cima do monte.  
 Olho para o lado, verifico que estou a dormir.  
 Sei só que tenho que arrumar a mala,  
 E que os desertos são grandes e tudo é deserto,  
 E qualquer parábola a respeito disto, mas dessa é que já me esqueci. 


 Ergo-me de repente todos os Césares.    
 Vou definitivamente arrumar a mala.    
 Arre, hei de arrumá-la e fechá-la;   
 Hei de vê-la levar de aqui,  
 Hei de existir independentemente dela. 


 Grandes são os desertos e tudo é deserto,  
 Salvo erro, naturalmente.  
 Pobre da alma humana com oásis só no deserto ao lado! 


 Mais vale arrumar a mala.  
 Fim.

Um arrepio, um medo, uma certeza.

A frase abaixo de John Donne me causa os mais profundos sentimentos do bem e a crença de que ha muito mais vida do que podemos enxergar. Por outro lado, apesar de nao conseguirmos ver com os olhos, é certo que podemos ver e sentir com o coração.


“Nenhum homem é uma ilha, sozinho em si mesmo; cada homem é parte do continente, parte do todo; se um seixo for levado pelo mar, a Europa fica menor, como se fosse um promontório, assim como se fosse uma parte de seus amigos ou mesmo sua; a morte de qualquer homem me diminui, porque eu sou parte da humanidade; e por isso, nunca procure saber por quem os sinos dobram, eles dobram por ti”.


“No man is na island, entire of itself; every man is a piece of the continent, a part of the main. If a clod be washed away by the sea, Europe is the less, as well as if promontory were, as well as if a manor of thy friend’s or of thine own were. Any man’s death diminishes me, because I am involved in mankind; and therefore never send to know for whom the bell tolls; it tolls for thee”.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Que venha, que chegue hoje e seja derradeiro.

Eu quero chuva ou Sol
Eu quero o doce ou o amargo
Eu quero ser o certo ou ser o errado
Eu quero o futuro ou o passado
Eu quero o verde ou o maduro
Eu quero tudo ou nada
A vida ou a morte
O recém construído ou as ruínas
Fragmentos, pedaços, migalhas, estou cansado.

My nickname is now lonely

Me disseram ontem que o amor é mais uma invenção da mídia para nos manter distantes da realidade das coisas.
Não queria crer nisso...
Mas tudo na minha vida tem demonstrado que se o amor existe, de fato, ele nao foi feito pra mim e menos ainda eu para ele.
...
Nunca me chamaram de meu amor. Só me chamaram de meu amante, ridiculamente.
Não vou rir, não vou rir.
Mas é isso.
... 


Tal vez...


Talvez seja negro
Talvez seja branco
Talvez seja daqui
Talvez seja de lá
Talvez nao seja, ainda.
Talvez nunca será

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

I don't care about anything else!

I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Identificação.




Devolvi o cordão e a medalha de ouro,
E tudo que ela me presenteou
Devolvi suas cartas amorosas,.
E as juras mentirosas,
Com que ela me enganou.
Devolvi a aliança e tambem seu retrato
Para não ver o seu sorriso
no silêncio do meu quarto.
Nada quis guardar como lembrança,
Prá não aumentar meu padecer.
Devolvi tudo
Só não pude devolver
A saudade cruciante
Que amargura meu viver.
Devolvi a aliança e tambem seu retrato.
Para não ver seu sorriso
No silêncio do meu quarto.
Nada quie guardar como lembrança.
Para não aumentar meu padecer.
Devolvi tudo,
Sá não pude devolver,
A saudade cruciante,
Que amargura meu viver.......


Falei na manhã seguinte da nossa noite...

Existem três alternativas para nós
E é você quem vai decidir
Por quais caminhos seguiremos.
Me ame, me assuma, fique comigo; (1)
Se afaste, desapareça, me esqueça; (2)
Ou uma tragédia derradeira será anunciada (3)
E assim que o dia amanhecer
Seremos gélidos
Estaremos com olhos roxos
Em cima de nossa cama
Porque se nessa vida nao podemos estar juntos
Estou certo de que na outra estaremos.
...

segunda-feira, 25 de julho de 2011

12

Uma decepção amorosa por mês
E se continuar assim, em breve,
Terei completado 12 nesse ano.
Doze!
Do que nao posso me esquecer
E que também a dor
Tem suas hipocrisias
E as minhas estão cheias delas.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Fracasso em cima de fracasso

O dia em que a gente percebe que discursos e atos nem sempre coexistem coerentemente na mesma pessoa a sensação é de fracasso.
- fracasso por crer no ser humano;
- fracasso por amar o ser humano;
- fracasso por se dedicar ao ser humano;
- fracasso por ter que levantar todos os dias da cama e ser obrigado a
continuar a vida como se nada tivesse acontecido.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Buscar.

Buscar não cansa. Buscar nao mata.


E em meio a todas essas coisas que eu nao gosto de fazer (como trabalhar e cumprimentar pessoas) mas que a vida me empurra para elas, procuro, nos minutos de folga, a minha cura nas coisas mais ridículas do mundo: no pote da Nutella, nos banhos de chuva em dias frios, num copo de café bem forte e até em cultos de igreja! Aliás, minha mania de entrar em igrejas para achar respostas está cada vez mais crônica. Semana passada "visitei" mais de 4 e o critério que tenho usado para minhas entradas "bruscas" - além de encontrar respostas para perguntas que eu nem conheço - é (1) estar passando na rua, (2) ouvir vozes e/ou cânticos, (3) encontrar a porta da igreja e (4) entrar. Exatamente nessa ordem. E nisso tenho visto coisas que, para a maioria, parecem as mais absurdas. Desde casamentos até expulsões de demônios. O pior de tudo: nada tem me causado estranheza, ao contrário, me parecem problemas fáceis de serem resolvidos. O casamento pode ser interrompido assim que os noivos decidirem que nao querem mais conviver juntos. A pessoa endemoniada ficará liberta assim que o Demônio sair de seu corpo.
Mas e quanto a mim?
Eu se quer sei o que eu tenho... E se quer sei se algum dia saberei...
O que fica?
- Ah! O de sempre oras! A sensação de que o limite já foi alcançado. O medo. O susto. A esquisita sensação de que o mundo está muito abafado e vai me sufocar até o dia em que o fim chegar. Fim este que parece estar cada vez mais longe.

O dia depois de amanhã

Você olha pra mim e os seus olhos denunciam:
Você diz que sou louco
Você diz que sou o errado
Você quer que eu me sinta mal
Na frente das pessoas


Quer que eu acredite na sua verdade inventada
E não no que eu sinto
Não sou mais aquele romântico
Cheio de amor puro
Como há 4 anos atrás
Não caio mais no seu joguinho maléfico


Não vai demorar muitos dias
Até que seus amigos percebam...
No dia em que vierem me pedir desculpas
Eu não estarei nem nessa cidade mais
Porque eu nasci para ser muito mais


Demorou, mas sua máscara caiu e se quebrou
E eu?
Eu não quero nem pisar mais no seus cacos.