quarta-feira, 31 de agosto de 2011

David Bowie - Starman


Marche Aux Flambeaux - CRUZ DE SOUZA


I

Rompe na aurora o sol que a terra esbofeteia
Com látegos de chama, iriando o pó e a areia,
Iriando os vegetais de ricas pedrarias,
Dos rubis e cristais das ourivesarias;
Aurora acesa em cor de púrpura de cravos
Opulentos, febris, ensanguinados, bravos;
De ritmos leves de harpa e frêmitos e beijos
Que são da natureza os trêmulos arpejos;
Aurora que sorri, que traz pomposamente
Todo o raro esplendor da luz resplandecente,
Das paisagens louçãs no fúlgido matiz
O aroma a derramar da meiga flor de lis.
Na alegria dos tons os pássaros cantando
Vão as asas abrindo, entre os clarões ruflando,
Asas emocionais, que assim dentre clarões
Palpitam num fervor de alados corações.
E no luxo oriental de etéreo Grão-Mogol
Como um Baco feliz rubro flameja o sol.

II

Filósofos titãs, filósofos insanos
Que destes turbilhões, que destes oceanos
De lutas e paixões, de sonho e pensamentos
Espalhastes no mundo aos clamorosos ventos
A Ciência fatal, talvez como um veneno,
Que os tempos abalou no caminhar sereno;
Filósofos titãs, que os séculos austeros
No flanco da Matéria abris, graves, severos,
Sobre o escombro da fé, da crença e da esperança,
Da civilização o trilho que hoje alcança
No seu aço viril as regiões supremas,
Traçado em novas leis, doutrinas e problemas;
Vós que sois no Saber os monges da existência
E só acreditais na força da Ciência,
Que da morte sabeis os filtros invisíveis,
Narcóticos, sutis, incógnitos, terríveis,
Não sabeis, entretanto, apóstolos sombrios,
Como à luz da Ciência os homens estão frios,
Como tudo ficou num doloroso caos
E os seres que eram bons, rudes, egoístas, maus.
Em vão! em vão! em vão! os vossos largos crânios
Lutaram pelo Bem dos Bens contemporâneos!
Tudo está corrompido e até mais imperfeito...
Não há um lírio são a florescer num peito,
De piedade, de amor e de misericórdia...
Se brota uma virtude o ascoso vício morde-a,
Envilece, corrompe e abate essa virtude
Com o cinismo revel dum epigrama rude...
E até muita alma vil, feroz, patibular,
Impunemente sobe ao mais sagrado altar.
Por isso vão passar perante a turbamulta
Como abrupta avalanche, enorme catapulta,
Numa marche aux flambeaux, os famulentos vícios
Que cavaram no globo horrendos precipícios,
Os vícios imortais, que infestam tribos, greis,
Povos e gerações, seitas, templos e reis
E que são como a lava obscura da cratera
Que subterraneamente em tudo se invetera.
Com toda intrepidez hercúlea de acrobata
Vou sobre eles soltar, gloriosa, intemerata,
A sátira que tem esporas de galhardo
Cavaleiro ideal que joga a lança e o dardo.
Vou com esse altanado e muscular esforço
De quem galga triunfal o soberano dorso,
A crista vigorosa, altiva, sobranceira,
Da mais agigantada e vasta cordilheira.

III

Lobos, tigres, chacais, camelos, elefantes,
Hipopótamos, ursos e rinocerontes,
Leopardos e leões, panteras acirrantes,
Hienas do furor, membrudos mastodontes,
Tredas feras do mal, soturnos dromedários,
Serpentes colossais que rastejais na treva,
Monstros, monstros cruéis, medonhos, sangüinários,
Cuja pata esmagante a presa aos antros leva;
Ó ventrudos judeus, opíparos, obesos,
De consciência obtusa, ignóbil e caolha
Que no mundo passais grotescamente tesos
Com honras de entremez e grandezas de rolha;
Gafentos histriões, ridículos da moda,
Que fingis entender Berlim, Londres, Paris,
Mas nos altos salões, por entre a fina roda,
Meteis sordidamente o dedo no nariz;
Brasonados truões, inúteis como eunuco,
Que as pompas ostentais de aurífero nababo
Mas apenas valeis como um limão sem suco,
Tendes rabo no corpo e dentro d'alma rabo;
Nobres de papelão, milionários vândalos
De ventre confortado e rosto rubicundo,
Que no torvo cancã, no cancã dos escândalos
Sois o horrendo espantalho, a ignomínia do mundo;
Ó deuses do milhão, ó deuses da barriga,
Que sentindo a aguilhada intensa da luxúria
Buscais a mais em flor e linda rapariga
Para então vos fartar na luxuriante fúria;
Gamenhos de toilette e convicções de lama
Onde tudo afinal se atola e se chafurda,
Que do clube e do sport sintetizais a fama
Mas tendes para o Bem a fibra sempre surda;
Palhaços, clowns senis, hediondos borrachos
Que aos trambolhões urrais afora no universo,
Desdenhando de tudo e até rindo dos fachos,
Do clarão do saber em toda a parte imerso;
Almas negras, servis, d’ergástulos caóticos,
Gerado no paul das lúgubres voragens,
Do crime nos bulcões, nos vícios mais despóticos
Aos quais tanto rendeis eternas homenagens,
Manequins, charlatães, devassos do bom-tom,
Que viveis nas Babéis das grandes capitais
Apodrecendo sempre infamemente com
O cancro do dinheiro as forças virginais;
Mascarados tafuis de gordos ventres de ouro,
Ó bonzos do deboche e cínicos esgares,
Que sois o único sol esterlinado e louro
Das parvas multidões, das multidões alvares;
Fidalgos de barril, sicofantas, malandros
Do templo e do bordel, da crápula de harém
Que ao puro mar do Ideal, com torpes escafandros,
Arrancais, p'ra vender, a pérola do Bem;
Ó trânsfugas, ladrões que difamais a terra,
Que tudo poluís, do próprio lodo à flor,
À serena humildade, intrepidez da guerra.
Aos beijos maternais, ao nupcial amor;
Espíritos de treva, espíritos de barro
Que enegreceis de horror o sangue das papoulas
E das ostentações vos aclamais no carro,
Cobertos de cetins, arminho e lantejoulas;
Que se vem de repente o Nada sepulcral
Nunca deixais, sequer, no tétrico leilão,
No leilão da memória, estranho, universal,
Nem um som a vibrar do estéril coração!
Dentre feras brutais de ríspidos penhascos
E a torrente caudal de rijos versos francos
E a zombaria e o riso e as sátiras e os chascos,
Nesta marche aux flambeaux ides passar, aos trancos!
Do mundo os naturais, zoológicos museus
Despejem para fora as pavorosas massas,
Para virem reunir-se aos tábidos judeus
Irromper e seguir e desfilar nas praças.
Que a cada mata, a entranha, o seio virgem se abra
Jorrando tigres, leões, panteras do seu centro
E na dança infernal, estrupida, macabra,
Siga a marche aux flambeaux pelo universo a dentro.
Gargalhadas abri a rubra flor sangrenta
Da humanidade vã na amargurada boca,
Vai agora passar a marcha truculenta
Sob o espingardear duma ironia louca.
E desfila e desfila em becos e vielas
E torna a desfilar por vielas e por becos,
Às risadas da turba, estultas e amarelas
Que têm o áspero som de gonzos perros, secos...
E desfila e desfila, estrídula e execranda,
Das praças na amplidão, rugindo em mar desfila,
Enquanto além dardeja, heróica e formidanda,
A metralha do sol que rútilo fuzila...
E mastodontes vão de braço dado a sérios
Burgueses que já são bem bons comendadores
E marqueses de truz, com ares de mistérios,
De lunetas gentis e aspectos sonhadores
Dão o braço fidalgo e airoso das nobrezas
Aos ursos boreais, enquanto os conselheiros,
Os condes, os barões, os duques e as altezas
Lá vão de braço dado aos lobos carniceiros.
E nessa singular, atroz promiscuidade,
Animais e truões de catadura suína,
Gordalhudos heróis da infâmia e da maldade,
Vendidos da honradez, velhacos de batina
Bobos, cães, imbecis, humanos crocodilos
E déspotas, jograis, todos os miseráveis
De todas as feições e todos os estilos,
Uns aos outros lá vão jungidos, formidáveis!...
Mas a marche aux flambeaux derrama um pesadelo,
A agonia dum tigre, em sonhos, sobre um ventre,
Agonia mortal que envolve tudo em gelo...
E desfila e desfila entre sarcasmos e entre
As sátiras-fuzis, relampejando açoite,
Por essa imensa aurora, estranhamente imensa
Por um sol que angustia e que não tem da noite
Para a Miséria a sombra atenuante e densa.
Os vícios, as paixões, os crimes, ódios e erros,
Na marcha, de roldão, caminham fraternais
Com bandidos, vilões, burgueses rombos, perros
E focas e mastins, macacos e chacais.
Aos sobressaltos vão como visões, fantasmas
Bichos de toda a casta, anões de chapéu alto,
Deixando em convulsão todas as almas pasmas
E o globo num tremendo e fundo sobressalto.
E nas praças, ao sol, confundem-se os bramidos,
Os uivos com a expressão humana misturados,
Através do sussurro e bruscos alaridos
Das chacotas bestiais, dos risos trovejados.
E segue e segue e segue, afora, légua a légua
Essa marche aux flambeaux, ciclópica, estupenda
Caminha atravessando um longo sol sem trégua,
Um dia secular, um dia de legenda;
Caminha atravessando um sol de foco aberto,
Por um dia fatal, interminável, mudo,
O dia do remorso, aterrador, incerto
Que em todo o coração crava um punhal agudo.
Mas eu quero assim mesmo, eu quero-vos assim,
Em marcha tropical, à crua e ardente luz
Que vos seja uma febre indômita, sem fim,
Um cautério de fogo a vos queimar o pus
Venéreo da Moral, carbonizando-o até
Para que nunca mais se sinta dele a origem
Nem volte, como sempre, então, a ser o que é,
Deixando-vos no mundo inteiramente virgem;
Eu quero-vos assim, de fachos apagados,
Apagados, ao alto, os joviais flambeaux,
Que os tereis de acender nos campos ignorados
Que de sóis de Vingança a Eternidade arou.
E depois de vagar às sátiras de todos,
Na evidência da luz, numa perpétua aurora;
De caminhar ao sol, por tremedais, por lodos,
No tédio do sarcasmo, o tédio que a devora,
Essa Marcha afinal penetrará aos urros,
Titânica, sinistra e bêbada, irrisória,
Num caos de pontapés, coices, vaias e murros,
Na eterna bacanal ridícula da História.

???

O que é amar?
Não estou certo de ter feito isso algum dia.
Quero que alguém me conte ou explique como se ama.
E se isso está realmente ligado ao verbos:
- sofrer;
- ousar;
- desistir.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Grandes (Pessoa)

 Grandes são os desertos, e tudo é deserto.  
 Não são algumas toneladas de pedras ou tijolos ao alto  
 Que disfarçam o solo, o tal solo que é tudo.  
 Grandes são os desertos e as almas desertas e grandes  
 Desertas porque não passa por elas senão elas mesmas,  
 Grandes porque de ali se vê tudo, e tudo morreu. 
 Grandes são os desertos, minha alma!  
 Grandes são os desertos. 


 Não tirei bilhete para a vida,  
 Errei a porta do sentimento,  
 Não houve vontade ou ocasião que eu não perdesse.  
 Hoje não me resta, em vésperas de viagem,  
 Com a mala aberta esperando a arrumação adiada,  
 Sentado na cadeira em companhia com as camisas que não cabem,  
 Hoje não me resta (à parte o incômodo de estar assim sentado)  
 Senão saber isto:  
 Grandes são os desertos, e tudo é deserto.  
 Grande é a vida, e não vale a pena haver vida, 


 Arrumo melhor a mala com os olhos de pensar em arrumar  
 Que com arrumação das mãos factícias (e creio que digo bem)  
 Acendo o cigarro para adiar a viagem,  
 Para adiar todas as viagens.  
 Para adiar o universo inteiro. 


 Volta amanhã, realidade!  
 Basta por hoje, gentes!  
 Adia-te, presente absoluto!  
 Mais vale não ser que ser assim. 


 Comprem chocolates à criança a quem sucedi por erro,  
 E tirem a tabuleta porque amanhã é infinito. 


 Mas tenho que arrumar mala,  
 Tenho por força que arrumar a mala,  
 A mala. 


 Não posso levar as camisas na hipótese e a mala na razão.  
 Sim, toda a vida tenho tido que arrumar a mala.  
 Mas também, toda a vida, tenho ficado sentado sobre o canto das camisas empilhadas,  
 A ruminar, como um boi que não chegou a Ápis, destino. 


 Tenho que arrumar a mala de ser.  
 Tenho que existir a arrumar malas.  
 A cinza do cigarro cai sobre a camisa de cima do monte.  
 Olho para o lado, verifico que estou a dormir.  
 Sei só que tenho que arrumar a mala,  
 E que os desertos são grandes e tudo é deserto,  
 E qualquer parábola a respeito disto, mas dessa é que já me esqueci. 


 Ergo-me de repente todos os Césares.    
 Vou definitivamente arrumar a mala.    
 Arre, hei de arrumá-la e fechá-la;   
 Hei de vê-la levar de aqui,  
 Hei de existir independentemente dela. 


 Grandes são os desertos e tudo é deserto,  
 Salvo erro, naturalmente.  
 Pobre da alma humana com oásis só no deserto ao lado! 


 Mais vale arrumar a mala.  
 Fim.

Um arrepio, um medo, uma certeza.

A frase abaixo de John Donne me causa os mais profundos sentimentos do bem e a crença de que ha muito mais vida do que podemos enxergar. Por outro lado, apesar de nao conseguirmos ver com os olhos, é certo que podemos ver e sentir com o coração.


“Nenhum homem é uma ilha, sozinho em si mesmo; cada homem é parte do continente, parte do todo; se um seixo for levado pelo mar, a Europa fica menor, como se fosse um promontório, assim como se fosse uma parte de seus amigos ou mesmo sua; a morte de qualquer homem me diminui, porque eu sou parte da humanidade; e por isso, nunca procure saber por quem os sinos dobram, eles dobram por ti”.


“No man is na island, entire of itself; every man is a piece of the continent, a part of the main. If a clod be washed away by the sea, Europe is the less, as well as if promontory were, as well as if a manor of thy friend’s or of thine own were. Any man’s death diminishes me, because I am involved in mankind; and therefore never send to know for whom the bell tolls; it tolls for thee”.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Que venha, que chegue hoje e seja derradeiro.

Eu quero chuva ou Sol
Eu quero o doce ou o amargo
Eu quero ser o certo ou ser o errado
Eu quero o futuro ou o passado
Eu quero o verde ou o maduro
Eu quero tudo ou nada
A vida ou a morte
O recém construído ou as ruínas
Fragmentos, pedaços, migalhas, estou cansado.

My nickname is now lonely

Me disseram ontem que o amor é mais uma invenção da mídia para nos manter distantes da realidade das coisas.
Não queria crer nisso...
Mas tudo na minha vida tem demonstrado que se o amor existe, de fato, ele nao foi feito pra mim e menos ainda eu para ele.
...
Nunca me chamaram de meu amor. Só me chamaram de meu amante, ridiculamente.
Não vou rir, não vou rir.
Mas é isso.
... 


Tal vez...


Talvez seja negro
Talvez seja branco
Talvez seja daqui
Talvez seja de lá
Talvez nao seja, ainda.
Talvez nunca será

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

I don't care about anything else!

I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else. I don't care about anything else.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Identificação.




Devolvi o cordão e a medalha de ouro,
E tudo que ela me presenteou
Devolvi suas cartas amorosas,.
E as juras mentirosas,
Com que ela me enganou.
Devolvi a aliança e tambem seu retrato
Para não ver o seu sorriso
no silêncio do meu quarto.
Nada quis guardar como lembrança,
Prá não aumentar meu padecer.
Devolvi tudo
Só não pude devolver
A saudade cruciante
Que amargura meu viver.
Devolvi a aliança e tambem seu retrato.
Para não ver seu sorriso
No silêncio do meu quarto.
Nada quie guardar como lembrança.
Para não aumentar meu padecer.
Devolvi tudo,
Sá não pude devolver,
A saudade cruciante,
Que amargura meu viver.......


Falei na manhã seguinte da nossa noite...

Existem três alternativas para nós
E é você quem vai decidir
Por quais caminhos seguiremos.
Me ame, me assuma, fique comigo; (1)
Se afaste, desapareça, me esqueça; (2)
Ou uma tragédia derradeira será anunciada (3)
E assim que o dia amanhecer
Seremos gélidos
Estaremos com olhos roxos
Em cima de nossa cama
Porque se nessa vida nao podemos estar juntos
Estou certo de que na outra estaremos.
...