domingo, 29 de janeiro de 2012

Um Caio F. para encerrar esse domingo.

Uma conclusão em um domingo que, ao que tudo indica, é o primeiro da fase neodecadente que se inicia em minha vida.
"preciso sim, preciso tanto de alguém que aceite tanto meus sonos demorados quanto minhas insônias insuportáveis. tanto meu ciclo ascético Francisco de Assis quanto meu ciclo etílico bukovskiano. que me desperte com um beijo, abra a janela para o sol ou a penumbra. tanto faz, e sem dizer nada me diga o tempo inteiro alguma coisa como eu sou o outro ser ao conjunto teu, mas não sou tu, e quero adoçar tua vida. preciso do teu beijo de mel na minha boca de areia seca, preciso da tua mão de seda no couro da minha mão crispada de solidão. preciso dessa emoção que os antigos chamavam de amor, quando sexo não era morte e as pessoas não tinham medo disso que fazia a gente dissolver o próprio ego no ego do outro e misturar coxas e espíritos no fundo do outro-você, outro-espelho, outro-igual-sedento-de-não-solidão, bicho carente, tigre e lótus"
Caio F. Abreu

sábado, 21 de janeiro de 2012

Sábado.

Sábado. 17h46. Fones no ouvido. Sensação de ausência e vontade de fumar. O horóscopo previa para o dia de hoje “um encontro com alguém especial, pois sua Vênus transita não sei aonde”. Palhaçada! Escuto Mozart e sinto como se houvesse uma tempestade acontecendo lá fora e outra aqui dentro, ambas me causam uma forte vontade de gritar timidamente as coisas de dentro e de fora. Deveria haver uma ruptura aqui, mas de que? Deveria haver algo aqui, mas o que? São perguntas que eu não sei responder. Mas estou certo que este sábado está quente, está chato, as coisas estão ruins por todo lugar que se olhe, não há o que admirar, não há o que cumprimentar e nem o que amar. Há uma tempestade corrosiva a tomar conta das almas e das paredes. Não sei de onde vem e não sei sobre seu fim.
É um sábado daqueles feitos pra gente misturar muita angústia com muito café. Pensei em cortar o meu cabelo ou aparar os pêlos dos meus gatos, romper com a ordem natural das coisas mesmo que fosse apenas aos meus cabelos ou aos pêlos deles... Em seguida acreditei que caminhar me ajudaria então abri a janela para ver como estavam as coisas lá fora e a tal tempestade que eu apenas sentia existir estava nítida em minha frente. Muros, árvores, pessoas, gramíneas... Tudo o que eu via estava derretendo e se tornando um líquido acinzentado e corrosivo e quanto mais derretia mais corroía o que encontrava pelo caminho. Ruas, prédios tudo se transformava em lama vulcânica acinzentada e vinha em minha direção como se quisesse destruir o pouco que eu era naquela tarde maldita. Tudo aquilo me assustou, me intimidou imensamente e fechei a janela para nunca mais abri-la novamente.
Pensei se santo daime ou algumas gramas de pó poderiam resolver alguma coisa... Nada! Não há cura para essa lama acinzentada e corrosiva, não há! Não há porque não se sabe a procedência ou as causas. Poderia se pensar que a própria vida tivesse se cansado de tudo e se transformado na tal lama, mas estava claro que ali não havia vida há anos, pois não havia sonhos e nem esperança, requisitos mínimos para que a vida possa pulsar em qualquer fragmento atômico escondido no pé de uma formiga ou de uma joaninha qualquer.
E dentro de toda essa loucura de lama, cinza, átomos e vulcões duas palavrinhas não saíam da minha cabeça. Palavras que, se unidas, atormentam e mutilam qualquer existência: “E” e “SE”. Não há no alfabeto desses dias quentes de sábado nada capaz de me atormentar mais que essas duas palavras juntas. São pequenas e parecem bobas, indefesas, solitárias e sem muita força – aparente. E se... E se! E se? E se... Tantas coisas já mortas passaram por E SE hoje. Incontáveis dias, incontáveis desoportunidades, incontáveis pessoas, incontáveis diálogos, incontáveis cores, incontáveis, incontáveis, incontáveis.
Tormento!
Volto meu pensamento para o instante presente. Lacrimosa Dies Illa parece criar bolhas de castigo no ar do quarto abafado e com cheiro de cigarros vencidos. Deixei-o escuro, aliás, deixei tudo a minha volta no escuro desde a hora em que levantei da cama. Fiz questão de não saber onde eu acabava e nem onde começava dentro dos espaços dessa jaula. E foi nisso que me movimentei - verdade é que o calor no escuro, se misturado com uma parcela que seja de angústia, é capaz de matar uma pessoa fragilizada de frio... Estou forte em meus medos. Estou sim. E agora, assim de súbito no caos, olhei para um dos cantos escuros... Uma bíblia que ganhei de aniversário de minha mãe. Por onde andaria Deus nessas horas? Farto estou de loucura e perguntas. Quero a claridade.

Janeiro/2012