sábado, 21 de janeiro de 2012

Sábado.

Sábado. 17h46. Fones no ouvido. Sensação de ausência e vontade de fumar. O horóscopo previa para o dia de hoje “um encontro com alguém especial, pois sua Vênus transita não sei aonde”. Palhaçada! Escuto Mozart e sinto como se houvesse uma tempestade acontecendo lá fora e outra aqui dentro, ambas me causam uma forte vontade de gritar timidamente as coisas de dentro e de fora. Deveria haver uma ruptura aqui, mas de que? Deveria haver algo aqui, mas o que? São perguntas que eu não sei responder. Mas estou certo que este sábado está quente, está chato, as coisas estão ruins por todo lugar que se olhe, não há o que admirar, não há o que cumprimentar e nem o que amar. Há uma tempestade corrosiva a tomar conta das almas e das paredes. Não sei de onde vem e não sei sobre seu fim.
É um sábado daqueles feitos pra gente misturar muita angústia com muito café. Pensei em cortar o meu cabelo ou aparar os pêlos dos meus gatos, romper com a ordem natural das coisas mesmo que fosse apenas aos meus cabelos ou aos pêlos deles... Em seguida acreditei que caminhar me ajudaria então abri a janela para ver como estavam as coisas lá fora e a tal tempestade que eu apenas sentia existir estava nítida em minha frente. Muros, árvores, pessoas, gramíneas... Tudo o que eu via estava derretendo e se tornando um líquido acinzentado e corrosivo e quanto mais derretia mais corroía o que encontrava pelo caminho. Ruas, prédios tudo se transformava em lama vulcânica acinzentada e vinha em minha direção como se quisesse destruir o pouco que eu era naquela tarde maldita. Tudo aquilo me assustou, me intimidou imensamente e fechei a janela para nunca mais abri-la novamente.
Pensei se santo daime ou algumas gramas de pó poderiam resolver alguma coisa... Nada! Não há cura para essa lama acinzentada e corrosiva, não há! Não há porque não se sabe a procedência ou as causas. Poderia se pensar que a própria vida tivesse se cansado de tudo e se transformado na tal lama, mas estava claro que ali não havia vida há anos, pois não havia sonhos e nem esperança, requisitos mínimos para que a vida possa pulsar em qualquer fragmento atômico escondido no pé de uma formiga ou de uma joaninha qualquer.
E dentro de toda essa loucura de lama, cinza, átomos e vulcões duas palavrinhas não saíam da minha cabeça. Palavras que, se unidas, atormentam e mutilam qualquer existência: “E” e “SE”. Não há no alfabeto desses dias quentes de sábado nada capaz de me atormentar mais que essas duas palavras juntas. São pequenas e parecem bobas, indefesas, solitárias e sem muita força – aparente. E se... E se! E se? E se... Tantas coisas já mortas passaram por E SE hoje. Incontáveis dias, incontáveis desoportunidades, incontáveis pessoas, incontáveis diálogos, incontáveis cores, incontáveis, incontáveis, incontáveis.
Tormento!
Volto meu pensamento para o instante presente. Lacrimosa Dies Illa parece criar bolhas de castigo no ar do quarto abafado e com cheiro de cigarros vencidos. Deixei-o escuro, aliás, deixei tudo a minha volta no escuro desde a hora em que levantei da cama. Fiz questão de não saber onde eu acabava e nem onde começava dentro dos espaços dessa jaula. E foi nisso que me movimentei - verdade é que o calor no escuro, se misturado com uma parcela que seja de angústia, é capaz de matar uma pessoa fragilizada de frio... Estou forte em meus medos. Estou sim. E agora, assim de súbito no caos, olhei para um dos cantos escuros... Uma bíblia que ganhei de aniversário de minha mãe. Por onde andaria Deus nessas horas? Farto estou de loucura e perguntas. Quero a claridade.

3 comentários:

  1. (Escrevo palavras fortes pra fingir que sou forte.)

    Meu deus, como me identifiquei com esse texto. Parece muito comigo.

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  2. Ainda não sei se fazer compras no supermercado é uma forma produtiva de aproveitar um sábado. Tão pouco posso concordar com vc que os teus sábados sejam improdutivos: com um texto desse, como poderá ser improdutivo? hein, hein, hein!

    Saudades dos nossos sábados, mesmo aqueles em que faxinávamos. M

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