sábado, 29 de outubro de 2011

Fragmento 6 in Livro do Desassossego

6.
"Escrevo, triste, no meu quarto quieto, sozinho como sempre tenho sido, sozinho como sempre serei. E penso se a minha voz, aparentemente tão pouca coisa, não encarna a substância de milhares de vozes, a fome de dizerem-se de milhares de vidas, a paciência de milhões de almas submissas como a minha ao destino quotidiano, ao sonho inútil, à esperança sem vestígios. Nestes momentos meu coração pulsa mais alto por minha consciência dele. Vivo mais porque vivo maior."

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Viver maior.
Sábado a noite em casa
e como se alguma coisa estivesse presa em minha garganta ou presa em minha vida.
Seja lá o que for isso está querendo sair, saltar para fora do que sou.
Ou do que penso que sou.
Não sei quem sou,
ou melhor, às vezes até o sei,
e sei pelas coisas que estão presas em mim
e querendo explodir,
seguro-as.
São a única forma de me conhecer.
Engana-se quem pensa que isso é pouco.
Restos, fiapos, gritos abafados,
Dores guardadas,
Sentimentos que querem saltar para fora.
São eles que nos fazem sentir gente,
sentir vida.
Não por eles, pelos sentimentos tristes,
jamais saberia sobre qualquer parte do que sou.
Ou, possivelmente, do que penso que sou.


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