Ouvia latejos do silêncio pularem das paredes de madeira que o cercavam acertarem em cheio suas extremidades e sua alma. Seus fantasmas o haviam abandonado.
Pensou se poderia mudar o frio que o envolvia: telefone, email, cartas, filmes. Não conseguia alcançar nada disso para senti-los. Disse para si mesmo:
- Que minh'alma nao durma por completo. Teve, pela primeira vez em vida, o temor da morte. Buscou ressuscitar o pouco que notava e acreditava ainda existir.
Em vão. Tudo em vão.
Amou muitas vezes.Ouvira, ao longo dos anos, os melhores conselhos dos melhores amigos.
"Ame sempre e não perca a esperança de ser feliz", dizia-lhe um amigo.
"Não se permita desacreditar num mundo de paz e plenitude", ensinava-lhe outro.
Acreditou no bem, na paz, na justiça. Sabia que seu ser era feito para o bem, para acreditar na vida com entusiasmo e esperança. Doou-se aos sentimentos nobres de coração.
Escreveu cartas de amor e amou muito. Amou seus amigos, seus irmãos, a vida, os fins de tarde, os inícios dos dias, o Sol. Foi um ser de luz que transcendeu.
Arrancaram-lhe pedaços.
Desafiaram sua fé em Deus.
Derrubaram-no ao chão.
Levantou.
Mas levantou tantas vezes...
Voltou a acreditar.
Voltou a crer nos melhores conselhos.
O tempo começou a diminuir os dias e encurtou o brilho do Sol.
Jogou-se sobre o bruto concreto dos dias cinzas e passageiros.
A míngua começou dilacerar-lhe.
Fechou-se.
Provou da realidade feia do mundo.
E o que restou-lhe de tudo isso?
O choro inconformado transfigurado na magreza, nas profundas olheiras e no amarelo pálido que lhe tingia toda a pele.
Estava só e sentia medo.
Medo de tudo.
Medo de todos.
Medo do que a vida tinha lhe mostrado e lhe arrebentado.
Estava só.
Tinham-lhe duramente cortado os galhos verdes.
Sombrio e sem fantasmas deitou-se na cama.
E o barulho da queda nao o despertou.
Atritou contra o colchão apodrecido.
Sentiu o apodrecimento ao seu redor e
percebeu que as lágrimas também já lhe eram companheiras.
Pôs-se ao nada.
E sozinho permaneceu.
enquanto não ultrapassarmos a dor da nossa própria solidão, continuaremos só...
ResponderExcluirHa como ultrapassa-la?!
ResponderExcluirImplacável. E verdadeiro.
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