quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Malditas tardes de verão


Não tenho muitas lembranças alegres da minha adolescência, mas certamente, nessa fase da minha vida, não houve nada mais triste que os fins de tarde no verão.


Eu nao sei explicar. Contudo, lembro que eu sentava na frente da minha casa e ali permanecia até o anoitecer olhando para a rua. Era uma espécie de ritual: chegava da escola as 17h15, largava meus livros, comia alguma coisa, vestia uma roupa "fresca" - ou nao tão fresca assim porque nessa época eu nao usava camisas com mangas curtas - e me sentava na calçada que rodeava toda a frente da minha casa e, descalço, colocava os pés na grama. Dali eu olhava para a rua cheia de pessoas felizes e entusiasmadas andando sempre em grupos e com ares de que estavam fazendo algo que as deixava iluminadas e, ao mesmo tempo, me entristecia. Eram cheias de si, cheias de vontade de viver. Riam, gritavam, estavam de mãos dadas, eram amigas, eram namorados, eram irmãos, eram felizes. Eu pensava no meu futuro, eu pensava se algum dia sairia na rua sem camiseta, de mãos dadas, rindo do nada e despreocupado com o Sol ou a poeira da rua que era tão imensa quanto os sorrisos estampados naquelas caras. Eu pensava que, talvez, por algum motivo, eu nao tinha sido escolhido por Deus para estar ali em meio a eles e que, provavelmente, jamais conseguiria me juntar a essa multidão que por vezes pensei que existia apenas por um intuito: me fazer ver o quanto eu era triste.


Por outro lado, o frio das lajotas da calçada na minhas pernas e as cócegas da grama nos meus pés me causavam uma leve e boa sensação de aconchego e acolhimento. Era, de fato, a única coisa realmente boa de sentir naqueles dias; a única coisa que valia a pena em meio àquele calor tropical poeirento e bufante e àquelas pessoas imensamente felizes, suadas e diferentes de qualquer coisa que eu poderia pensar em ser.


Agora, tanto tempo depois, eu sinto medo. Sempre que setembro chega na 2ª quinzena e o calor começa a fritar as pessoas, eu peço a Deus que o Sol nao me entristeça como naquelas tardes, porque aqui onde estou nao encontro grama e acredito que poderá ser o meu fim se a poeira, as pessoas e o calor se unirem mais uma vez contra a minha solidão.






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